‘’A principal conclusão deles é simples,
acaciana até, ainda assim tão difícil de aceitar: seres humanos não agem
racionalmente, ou nem sempre, ao contrário do que supunha a teoria econômica.
Em dezenas de experimentos, eles demonstraram que nossos julgamentos e decisões
funcionam como a visão. Ora são claros, ora turvos, sujeitos a miragens,
ilusões de óptica ou à pura cegueira. Não importa quanto conhecimento ou
insígnias acadêmicas tenha o indivíduo. Na hora de decidir, mesmo os melhores
estatísticos ou cientistas falham como crianças de 10 anos. Antes desprezadas,
as armadilhas conhecidas como “vieses cognitivos” foram comprovadas pela dupla
e por seus seguidores nos campos mais diversos – do trânsito à medicina, do
Direito à filosofia.’’
OI PESSOAL!
Vamos estudar Daniel
Kahneman e Amos Tversky. Leiam tudo que no próximo post farei perguntas para esta leitura. Ela dará base para a proposta de redação que vou criar. (pROFA rOSE: MARATONA FUVEST A PARTIR DE SEGUNDA QUE VEM. AULAS? LIGUE NO TELEFONE FIXO 32713311. MAIS PRÁTICO P MIM)
Daniel
Kahneman
Prêmio Nobel de Economia
O erro humano
Em 2002, Daniel Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de Economia. Isso foi
particularmente incomum porque Kahneman é um psicólogo. Junto com seu amigo
Amos Tversky, que morreu em 1996, aos 59 anos, a dupla de psicólogos
desmantelou a ideia de racionalidade econômica. A irracionalidade humana é seu
grande tema.
Há três fases em sua carreira. Na primeira, ele e Tversky fizeram uma
série de experimentos engenhosos que revelaram “preconceitos cognitivos” –
erros inconscientes de raciocínio que distorcem nosso julgamento do mundo. Na
segunda fase, a dupla mostrou que as pessoas que tomam decisões em condições de
incerteza não se comportam da maneira que os modelos econômicos
tradicionalmente previam. Os dois, então, desenvolveram um relato sobre como as
pessoas tomam decisões, mais fiel à psicologia humana, que eles chamaram de
“teoria das perspectivas” (prospect theory). Foi por essa conquista que
Kahneman recebeu o Nobel. Na terceira fase de sua carreira, principalmente após
a morte de Tversky, Kahneman mergulhou no estudo da felicidade, sua natureza e
suas causas.
Seu best-seller Rápido e devagar: duas formas de pensar (Thinking
fast and slow) abrange todas estas fases. É um livro imperdível. Denso,
profundo, cheio de surpresas intelectuais, bem-humorado, como seu autor, e
tocante, especialmente quando Kahneman fala de sua colaboração com seu amigo
Tversky. “O prazer que encontramos em trabalhar juntos nos tornou
excepcionalmente pacientes. É muito mais fácil lutar pela perfeição quando você
nunca está entediado.”
Nesta entrevista à Resenha, Kahneman passeia pelas suas principais
ideias, de como elas podem afetar a nossa vida pessoal, a vida financeira, o
mercado e a política. “A psicologia pode ser muito útil para ajudar a planejar
a experiência social. Quando as reformas econômicas fracassam, a principal
razão é que qualquer reforma gera vencedores e perdedores. Os perdedores lutam
muito mais do que os potenciais vencedores. Em consequência disso, para obter
qualquer resultado tem de se compensar os perdedores. Tipicamente o custo disso
é alto, algo que os planejadores não anteviram.”
Kahneman é um dos principais convidados do Congresso Internacional de
Mercados Financeiro e de Capitais, que ocorre em agosto. Confira abaixo sua
entrevista.
RESENHA – O que deveríamos saber a
respeito de como a psicologia afeta a economia e, sobretudo, as decisões
financeiras?
KAHNEMAN – É
quase uma disciplina mista de psicologia social e economia comportamental.
Todos são chamados de economistas comportamentais, mas na verdade aplicam a
psicologia à tomada de decisões financeiras e outras atividades econômicas. O
campo já existe e muitas contribuições advêm de algumas outras áreas. As mais
importantes advêm da psicologia social e da psicologia do julgamento. Outra
fonte de informações relevantes é a literatura sobre julgamento e o processo
decisório. Essas são as duas principais fontes de influência sobre a economia
comportamental e as aplicações da economia comportamental nas políticas
públicas.
RESENHA – O que torna as questões
psicológicas relevantes para as políticas públicas?
KAHNEMAN –
Dizem que as políticas públicas interagem com os cidadãos e que a maneira pela
qual os cidadãos se comportam e agem é relevante para o governo. É considerada
relevante qualquer coisa que o governo possa fazer para que as pessoas ajam
melhor em seu próprio interesse. Acontece que a psicologia é muito útil para
criar as ferramentas para isso. Deixe-me dar um exemplo. Digamos que haja um
benefício que esteja disponível para pessoas desempregadas. Muitos dos próprios
beneficiários desconhecem esses benefícios. Há espaço para a psicologia em
termos de como formular as mensagens, como conscientizar as pessoas a respeito
das oportunidades disponíveis e como orientá-las a tomar as decisões que
realmente sejam em seu melhor interesse. Esse é só um exemplo dentre muitos.
RESENHA – Por que temos de ir mais
devagar ao tomar grandes decisões? Poderia explicar muito resumidamente a ideia
do “sistema 1” e “sistema 2” em relação a decisões?
KAHNEMAN – Em
meu livro Rápido e devagar: duas formas de pensar (Thinking
fast and slow), fiz uma distinção entre duas maneiras de funcionamento da
mente, na verdade. Uma maneira, que é chamada de sistema 1, é rápida,
automática e mais emocional, fazendo muito uso da associação de ideais. O
sistema 2 é mais lento e reflexivo, envolvendo mais esforço. Falo das
interações entre esses dois sistemas. Nenhum deles é perfeito. Ambos são muito
bons naquilo que fazem. Precisa ler o livro para saber como interagem e
contribuem para a tomada de decisões. Não se pode resumi-lo em poucas frases.
RESENHA – Por que tomamos decisões
ruins a respeito do dinheiro? O que pode ser feito para melhorá-las?
KAHNEMAN – [ri] Como tomar decisões boas a respeito do dinheiro é
uma questão altamente especializada. Fala-se em “alfabetização financeira”. Em
sua maioria, as pessoas são analfabetos financeiros. Se a pergunta se refere
aos analfabetos financeiros e por que tomam decisões ruins, eu diria que é
porque não têm conhecimento suficiente para tomar decisões melhores. Não é
intuitivamente óbvio que fundos de índice possam ser um investimento melhor do
que fundos de gestão ativa. É algo que as pessoas financeiramente alfabetizadas
sabem – não todas, mas muitas – e que os analfabetos financeiros não sabem.
Portanto, quando entregues a si próprias as pessoas tomam decisões ruins menos
por causa de maus conselhos e mais por causa de sua ignorância. Esse é um
problema pequeno, acho eu.
Parece que, quando as pessoas pensam a respeito do
dinheiro, elas o colocam em varias categorias diferentes e tratam cada
categoria de modo muito diferente. É isso que chamamos de contabilidade mental.
Em termos mentais, ha um orçamento e a pessoa se preocupa com as alocações a
partir do seu orçamento. Isso pode levar as vezes a consequências absurdas, mas
em geral a contabilidade mental e um instrumento de autocontrole
RESENHA – Poderia explicar o que o
senhor chama de “contabilidade mental” e seus efeitos nas decisões sobre o
dinheiro?
KAHNEMAN – Parece que, quando as pessoas pensam a respeito do dinheiro,
elas o colocam em várias categorias diferentes e tratam cada categoria de modo
muito diferente. É isso que chamamos de contabilidade mental. Em termos
mentais, há um orçamento, e a pessoa se preocupa com as alocações a partir do
seu orçamento. Isso pode levar às vezes a consequências absurdas, mas em geral
a contabilidade mental é um instrumento de autocontrole. Você tem um orçamento
determinado e suas decisões respeitam esse orçamento. Pode dar certo. Não é de
todo ruim, embora possa levar a decisões completamente ridículas às vezes.
Muito se escreveu a respeito das decisões ridículas e menos a respeito das
vantagens da contabilidade mental. Isso é muito abstrato e, portanto, eu
deveria lhe oferecer outro exemplo.
Descobriu-se, por exemplo, que a probabilidade de que as pessoas sairão
de casa para assistir a uma partida de beisebol em um dia de mau tempo ou muito
trânsito é maior quando compraram os ingressos do que quando possuem os mesmos
ingressos mas não tiveram de pagar. Esse é um exemplo de contabilidade mental.
Você já pagou, mas quer receber algo em troca do dinheiro que desembolsou.
Quando pensamos a respeito disso racionalmente, do ponto de vista da economia
racional, não faz sentido. Você já gastou o dinheiro e já arcou com o custo, de
modo que não deveria se importar. Na verdade, quando as pessoas gastaram com o
intuito de receber algo, elas querem realmente recebê-lo. A contabilidade
mental funciona assim.
RESENHA – O senhor acha que devemos
confiar na intuição em geral?
KAHNEMAN – Essa
pergunta é muito, mas muito geral. Podemos confiar na intuição em geral nas
situações em que temos expertise. Não são poucas as situações em
que temos expertise. De modo geral, é provável que dê para confiar
na intuição quanto a quem não gosta da gente. É provável que a gente saiba
bastante sobre isso, não com perfeição, mas temos intuições, e isso é porque
temos expertise. Os xadrezistas podem confiar na intuição se
jogaram milhares de partidas, mas os novatos não podem. Podemos confiar na
intuição ao vivermos uma situação que conhecemos bem e que possui algumas
regularidades que podemos aprender. Se aprendermos essas regularidades no
ambiente, podemos confiar na intuição. É isso que acontece com os xadrezistas e
com os motoristas. Dirigimos intuitivamente porque temos muita experiência, mas
não é o caso na bolsa porque não há regularidade suficiente para que as pessoas
tenham intuições válidas a respeito de quais ações vão subir e quais vão cair.
As pessoas podem achar que tenham intuições, mas essas intuições não valem
nada.
RESENHA – Há muitas evidências a
respeito de decisões irracionais na economia. Por que as pessoas nem sempre
tomam decisões boas?
KAHNEMAN – A
primeira razão é que as pessoas operam num mundo sobre o qual sabem pouco. Por
exemplo, no campo das decisões financeiras, a maioria das pessoas não sabe
nada. Fala-se muito em psicologia e vieses cognitivos. Os vieses são a
principal razão pela qual as pessoas erram, mas na verdade a ignorância e o
desconhecimento são uma fonte muito importante de decisões ruins. Em outros
campos, como entre empreendedores, seria pertinente perguntar se o otimismo
excessivo é fonte de decisões ruins, porque excesso de otimismo ou deficiência
de realismo leva muitos empreendedores e inventores a correr riscos que nem
sabem que estão correndo. Não sabem que estão correndo esses riscos porque
estão sendo otimistas. Não é fácil dizer se a decisão é ruim ou boa.
Claramente há muitas pessoas que correm riscos, e correm esses riscos
porque não sabem o que estão fazendo. Se soubessem, não correriam esses riscos.
Há muitas razões e muitos tipos de decisões ruins. Não há resposta simples a
essa pergunta.
RESENHA – Poderia compartilhar sua
opinião sobre experiência versus memória? Quando falamos de
felicidade, como podemos maximizar nossa sensação de felicidade? Qual a relação
entre metas e satisfação?
KAHNEMAN –
Tenho de argumentar que há maneiras bem diferentes de se definir a felicidade.
Talvez haja até três, mas as duas de que falo mais são, primeiro, que você pode
estar feliz neste momento e, segundo, que você pode estar satisfeito quando
pensa a respeito de sua vida. A satisfação com a vida é um tipo de felicidade e
a experiência de vida em tempo real é outro tipo. Acontece que para ser feliz,
de acordo com uma determinada definição, você não faz as mesmas coisas que faz
quando quer ser feliz no momento e quando quer estar satisfeito com sua vida.
Para ser feliz no momento… a principal coisa que deixa as pessoas
felizes no momento é social, é estar com pessoas que amam. É nesse momento que
ficam muito felizes, sentem-se inteiramente felizes. Para estar satisfeitas com
suas vidas, as pessoas querem realizar algo, querem ficar ricas, querem
educar-se, querem ter êxito – trata-se de um conjunto muito diferente de
critérios. Maximizam sua felicidade, a felicidade de sua experiência, e
maximizam sua satisfação com você mesmo e com sua vida. Não é necessariamente a
mesma coisa.
RESENHA – Como podem seus trabalhos
acadêmicos impactar a vida das pessoas e o êxito das empresas?
KAHNEMAN –
Estudo o julgamento e o processo decisório. Muita gente já estudou as mesmas
coisas que eu. É disso que falávamos antes. Trata-se do efeito daquilo que
agora se chama de economia comportamental e como arranjar as decisões que os
indivíduos enfrentam de modo a maximizar a probabilidade de tomarem a decisão
certa.
Acho que a psicologia pode ser muito útil para ajudar a planejar a
experiência social. Darei um exemplo: quando as reformas econômicas fracassam,
ou pelo menos têm menos êxito do que o esperado. A principal razão é que
qualquer reforma gera vencedores e perdedores. Os perdedores lutam muito mais
do que os potenciais vencedores. Os potenciais perdedores resistem mais às
mudanças do que os potenciais vencedores. Em consequência disso, para obter
qualquer resultado tem de se compensar os perdedores. Tipicamente o custo disso
é alto, e tipicamente isso não é algo que os planejadores anteviram.
Esse é um
exemplo da utilidade da consciência psicológica para ajudar os políticos e
outros a pensar sobre as possíveis reações a suas medidas e as possíveis
implicações de suas medidas quando interagem com os cidadãos.
RESENHA – Dado o funcionamento dos
mercados financeiros e de capitais, quais as principais ideias produzidas pela
teoria das perspectivas (prospect theory)?
KAHNEMAN – Temos algumas previsões sobre os mercados e, de modo geral, por
exemplo, a prospect theory foi usada para explicar por que é
mais arriscado investir na Bolsa e por que o retorno do investimento em ações é
maior do que o retorno dos investimentos menos arriscados. Mesmo assim, pode
ser pouco razoável se for levada em conta apenas a distribuição dos riscos. Há
mais evolução do risco no mercado acionário quando o indicador é o prêmio de
risco. Há mais risco, e isso pode ser explicado pelo que chamamos de redução do
prejuízo. Reduzir prejuízos é muito importante nas decisões dos investidores
pessoas físicas, sobretudo pessoas ricas. Na hora de decidir, tendem a se
preocupar muito mais com perdas do que com ganhos.
Temos algumas previsões sobre os mercados e de modo
geral, por exemplo, a prospect theory foi usada para explicar por
que e mais arriscado investir na Bolsa e por que o retorno do investimento em
ações é maior do que o retorno dos investimentos menos arriscados. Mesmo
assim, pode ser pouco razoável se for levada em conta apenas a distribuição
dos riscos.
Isso faz muito mais sentido se você não for rico, porque pode ser
arruinado por prejuízos. Mesmo as pessoas muito ricas preocupam-se mais com
perdas potenciais do que com bons ganhos potenciais, especialmente quando esses
ganhos acabam não maximizando seus lucros. Alguém que vise à maximização da
riqueza dará pesos mais ou menos iguais a ganhos e perdas. A maioria, porém,
tende a dar muito mais peso, talvez duas vezes mais, a perdas do que a ganhos
em suas decisões. Isso influencia tanto o mercado quanto as decisões
individuais.
RESENHA – O que é “racionalidade
limitada” exatamente? Como os limites da racionalidade afetam o funcionamento
dos mercados financeiros e de capitais?
KAHNEMAN –
Sabe, não sou especialista em assuntos financeiros. Não posso responder com
exatidão. A pergunta vai além do meu conhecimento específico. Mas a
racionalidade limitada significa simplesmente que as pessoas não
necessariamente maximizam suas oportunidades. As pessoas não investem melhor
porque custa caro identificar a melhor solução.
A tradição da racionalidade limitada difere bastante do tipo de trabalho
com o qual estive envolvido. Leva a um rumo diferente. Os economistas que
refletiram sobre a racionalidade limitada estavam enfocando as limitações da
memória e da busca. Nós pensamos em termos de vieses.
RESENHA – Cada vez mais os mercados
financeiros são movidos por algoritmos e coisas do gênero. O senhor acha que
alguns dos erros que cometemos frequentemente ao tomar decisões financeiras por
causa de nossos vieses ou de falhas psicológicas podem ser administradas ou
mitigadas por essas máquinas? Ou acha que as máquinas simplesmente repetem os
erros cometidos pelos seres humanos?
KAHNEMAN – Não, não estou convicto de que as máquinas repitam os erros
humanos. As máquinas utilizam big data. O sistema financeiro gera
uma quantidade enorme de dados. Alguns dados são de longo prazo, e alguns são
de curto prazo – tão curto quanto um microssegundo, em muitos casos. Não há
dúvida de que não estão meramente repetindo os erros humanos.
LEITURA DA ÉPOCA
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