domingo, 30 de dezembro de 2018

Análise simplificada do poema LEGADO, de Drummond

AULAS DE REDAÇÃO, LITERATURA, GRAMÁTICA, INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS, FILOSOFIA... https://www.facebook.com/aula.de.redacao.online/?eid=ARDpM-uzgsjkBCJwDjhL15su_wGj8sbeZffqp4ECmSS0narncIWT8d0gmx1AFqIbpxdQ7lkWfrmIAmie
Legado

Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.

Interpretando de modo simplificado: o eu lírico preocupa-se com a herança poética que deixará ao País. Será que a medalha ( medalha é signo de premiação) é incerta significa que ele sente que todo o seu trabalho de escrita talvez, no futuro, seja considerado sem valor.
Os artistas sempre querem ser grandes.  Ezra Pound foi um escritor que dividiu a qualidade de artistas. E os mais poderosos seriam os inventores. Dessa forma, os artistas que sofrem dedicando sua vida a seu trabalho sempre ficam meio arrependidos. Pois tanto esforço poderá representar vão. E se minha medalha foi incerta?
Drummond ficou famoso com seu poema “havia uma pedra no meio do caminho...’’. Quem não conhece.  Mas essa fama tão grande ainda que o acompanhasse por muito tempo não lhe deu certeza de que de fato seria um bom poeta.

E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfe

Temos aí mais uma indagação de um eu lírico meio inseguro e triste. Ele se compara aos outros poetas  e pergunta se ele comparando-se a vários outros poetas poderá ser maior, pode esperar mais.
Ele faz aí uma intertextualidade com um mito grego ( lembre-se de que Claro Enigma tem uma pegada clássica, cita mitologia grega, portanto). Orfeu era um músico que para entrar num inferno onde estava presa sua amada seduziu cães demoníacos. Drummond ao utilizar o mito que revela a sedução de Orfeu é agressivo, dizendo que o mundo ( de hoje, do tempo dele) não o engana e ele não engana o mundo. Pois os monstros atuais ( pessoas vulgares, sem sensibilidade para a poesia, não se deixarão seduzir por poema algum. E assim o poeta anda na dúvida, ‘entre o talvez ( advérbio de dúvida) e o se’ ( conjunção adverbial condicional)

Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.


Fica evidente que nessa estrofe o poeta tem certeza de que não deixará poema que reflita beleza, sentimento e que retire da pessoas a emoção.

De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.
Aí fica mais do que claro. O poeta expõe que caprichou no passo ( na elaboração) de sua poesia. Mas o que ficará é o poema sobre a pedra.
Tem-se na expressão ‘uma pedra que havia em meio do caminho’ pode ser interpretada além do poema composto por ele. Há outra compreensão da pedra que foram os empecilhos que atravancaram sua vida.

 Carlos Drummond de Andrade, In: Claro Enigma. 



FUVESTIANAS: como conciliar o ativismo em prol dos animais aos interesses econômicos da agropecuária?


Aulas de Redação, Interpretação de Textos, Literatura, Gramática, filosofia.
Informe-se aqui. 
Só particular, jamais em grupinhos.


https://www.facebook.com/aula.de.redacao.online/




                                          PROPOSTA ESTILO FUVEST

O ativismo em prol da causa animal pode representar a evolução da humanidade, já que reflete sobre a dignidade dos bichos.  Por meio dele passou-se a divulgar que judiar dos animais, submetê-los aos testes de laboratórios; criá-los confinados; abandoná-los como se fosse objetos descartáveis, é ato cruel e desumano.
Todavia,  é preciso considerar que a agropecuária, em especial, é um segmento significativo na economia mundial, ainda que use técnicas desumanas tais como o confinamento, transporte e abate das reses e galináceos.
Considerando as ideias apresentadas nos textos e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista: como conciliar o ativismo em prol dos animais aos interesses econômicos da agropecuária?


DICA: NÃO FAÇA CITAÇÕES DE FILÓSOFOS E PENSADORES, DE MODO ALEATÓRIO. SÓ USE BAUMAN ( VIROU MANIA) E FOUCAULT SE, DE FATO, FOR PERTINENTE. 
O MAIS IMPORTANTE É CRIAR UMA PEÇA ESCRITA COM COMEÇO, MEIO E FIM. TESE QUE EVIDENCIE QUE VOCÊ INTERPRETOU BEM A COLETÂNEA E QUE SOUBE ARGUMENTAR EMBASANDO-A DE MODO FORTE.
É CLARO QUE CITAR OUTROS PENSADORES É BEM-VINDO. MAS TENHO PERCEBIDO CITAÇÕES ''SEM NOÇÃO''. ISSO PORQUE O PESSOAL FICA TÃO FIXADO EM BUSCAR FILÓSOFOS PARA INCREMENTAR SEU TEXTO QUE 'ESCORREGAM' NA ORGANIZAÇÃO DAS IDEIAS.



 LEIA OS TEXTOS PARA FAZER SUA REDAÇÃO
O principal sinal de humanidade é a maneira como os seres humanos tratam os animais. O ser realmente humano seria incapaz de tratar mal um animal. O ser realmente sensível e pensante, carinhoso por sentimento e prestável por sistema, teria a delicadeza da superioridade. Há-de reparar-se que as pessoas e as civilizações mais brutas são as que mais maltratam os animais. E preciso um mínimo de humanidade para se ter pena dos bichos. Os bichos não são gente, mas não têm culpa de não ser. Nós temos. 
Por enquanto ainda tratamos os animais como os animais que somos. Tratamo-los como eles, caso mandassem nos seres humanos, nos tratariam a nós. Só que pior. Matamo-los, comemo-los, batemos-lhe, abandonamo-los. Tratamo-los como iguais porque ainda somos iguais a eles. Os animais tratam mal os animais diferentes deles. No dia em que formos superiores cuidaremos deles como deve ser. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume' http://www.citador.pt/textos/o-principal-sinal-de-humanidade-miguel-esteves-cardoso

Bichos fadados, pela própria qualidade de sua matéria, à morte violenta, impressiona-me nelas a atitude em face da vida. São generosas, pois vivem de dar, e dão tudo o que têm, sem maiores queixas que as do trespasse, transformando-se num número impressionante de utilidades, como alimentos, adubos, botões, bolsas, palitos, sapatos, pentes e até tapetes — pelegos — como andou em moda. Por isso sou contra o uso de seu nome como insulto. Considero essa impropriedade um atentado à memória de todas as galinhas e vacas que morreram para servir ao homem. Só o leite e o ovo seriam motivo suficiente para se lhes erguer estátua em praça pública. Nunca ninguém fez mais pelo povo que uma simples vaca que lhe dá seu leite e sua carne, ou uma galinha que lhe dá seu ovo. E se o povo não pode tomar leite e comer carne e ovos diariamente, como deveria, culpe-se antes os governos, que não os sabem repartir como de direito. E abaixo os defraudadores e açambarcadores que deitam água ao leite ou vendem o ovo mais caro do que custa ao bicho pô-lo! Vinicius de Moraes, in 'Para Uma Menina Com Uma Flor' http://www.citador.pt/textos/do-amor-aos-bichos-vinicius-de-moraes

‘’Todavia, ninguém boi tem culpa de tanta má-sorte, e lá vai ele tirando, afrontado pela soalheira, com o frontispício abaixado, meio guilhotinado pela canga-de-cabeçada, gangorrando no cós da brocha de couro retorcido, que lhe corta em duas a barbela; pesando de-quina contra as mossas e os dentes dos canzís biselados; batendo os vazios; arfando ao ritmo do costelame, que se abre e fecha como um fole; e com o focinho, glabro, largo e engraxado, vazando baba e pingando gotas de suor. Rebufa e sopra:
"Nós somos bois... Bois-de-carro... Os outros, que vêm em manadas, para ficarem um tempo-das-águas pastando na invernada, sem trabalhar, só vivendo e pastando, e vão-se embora para deixar lugar aos novos que chegam magros, esses todos não são como nós..."
- Eles não sabem que são bois... - apóia enfim Brabagato, acenando a Capitão com um esticão da orelha esquerda. - Há também o homem...
- É, tem também o homem-do-pau-comprido-com-o-marimbondo-na-ponta... - ajunta Dançador, que vem lerdo, mole-mole, negando o corpo. - O homem me chifrou agora mesmo com o pau... http://contosdeaula.blogspot.com/2007/05/conversa-de-bois.html
..................................................................................................



‘’O navio saiu do Porto de Santos no dia 5 de fevereiro sob forte pressão de grupos de defesa dos animais - eles afirmam que os bovinos sofreram maus-tratos. Após protestos e processos, a Justiça chegou a proibir a exportação de carga viva em todo o país, mas suspendeu a decisão após o governo do presidente Michel Temer (PMDB) recorrer.
No entanto, a guerra deve continuar nos próximos meses: a expectativa é de que as exportações de animais vivos cresçam 30% neste ano ao mesmo tempo em que diversas ações judiciais tentam impedi-las.
O Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) - um mercado de R$ 5,3 bilhões ao ano apenas no Brasil. A maior parte desse montante é de carne processada e congelada, ou seja, os animais são abatidos no Brasil e depois levados aos países compradores.
Há cerca de 20 anos, porém, o Brasil passou a vender também os animais vivos. Eles são transportados de caminhão das fazendas ao porto, colocados em grandes embarcações, viajam milhares de quilômetros pelo mar e, depois, são abatidos no país comprador.

Esse tipo de exportação vem crescendo ano a ano. Segundo Associação Brasileira dos Exportadores de Animais Vivos (Abreav), o Brasil vendeu 460 mil cabeças de gado em pé - nome técnico para a modalidade - em 2017, movimento de R$ 800 milhões e crescimento de 42% em relação a 2016.
"Nós estamos crescendo todos os anos e, em 2018, vamos aumentar as vendas em 30%", diz Ricardo Pereira Barbosa, presidente da Abreav.
A maior parte dos animais vai para países muçulmanos por uma questão religiosa. A carne consumida pelos religiosos deve ser cortada pela técnica halal.
Nesse tipo de corte, os animais devem estar saudáveis ​​no momento do abate, segundo explica Michel Alaby, secretário geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. "O animal é morto de cabeça para baixo e todo o sangue deve ser drenado", diz.
O bicho deve ser abatido por um muçulmano que tenha atingido a puberdade. Ele deve pronunciar o nome de Alá ou recitar uma oração que contenha o nome de Alá durante o processo, com a face do animal voltada para Meca.
Segundo a Câmara Brasil Árabe, as exportações de gados vivos para cinco países árabes, como Iraque e Egito, cresceram 75% nos últimos dois anos - de R$ 273 milhões em 2015 para R$ 412 milhões no ano passado.
A proibição do transporte dos animais foi comemorada por ativistas e ambientalistas, mas acendeu um sinal amarelo no setor agropecuário e também no governo federal. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-43116666
.......................................................................................
aqui meu querido DANIEL que termina Medicina. 

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

PENSADORES PARA O CURSO VOLTADO À 2ª FASE DA FUVEST:Daniel Kahneman e Amos Tversky



‘’A principal conclusão deles é simples, acaciana até, ainda assim tão difícil de aceitar: seres humanos não agem racionalmente, ou nem sempre, ao contrário do que supunha a teoria econômica. Em dezenas de experimentos, eles demonstraram que nossos julgamentos e decisões funcionam como a visão. Ora são claros, ora turvos, sujeitos a miragens, ilusões de óptica ou à pura cegueira. Não importa quanto conhecimento ou insígnias acadêmicas tenha o indivíduo. Na hora de decidir, mesmo os melhores estatísticos ou cientistas falham como crianças de 10 anos. Antes desprezadas, as armadilhas conhecidas como “vieses cognitivos” foram comprovadas pela dupla e por seus seguidores nos campos mais diversos – do trânsito à medicina, do Direito à filosofia.’’



OI PESSOAL!
Vamos estudar Daniel Kahneman  e  Amos Tversky. Leiam tudo que no próximo post farei perguntas para esta leitura. Ela dará base para a proposta de redação que vou criar. (pROFA rOSE: MARATONA FUVEST A PARTIR DE SEGUNDA QUE VEM. AULAS? LIGUE NO TELEFONE FIXO 32713311. MAIS PRÁTICO P MIM)


Daniel Kahneman
Prêmio Nobel de Economia
O erro humano
Em 2002, Daniel Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de Economia. Isso foi particularmente incomum porque Kahneman é um psicólogo. Junto com seu amigo Amos Tversky, que morreu em 1996, aos 59 anos, a dupla de psicólogos desmantelou a ideia de racionalidade econômica. A irracionalidade humana é seu grande tema.
Há três fases em sua carreira. Na primeira, ele e Tversky fizeram uma série de experimentos engenhosos que revelaram “preconceitos cognitivos” – erros inconscientes de raciocínio que distorcem nosso julgamento do mundo. Na segunda fase, a dupla mostrou que as pessoas que tomam decisões em condições de incerteza não se comportam da maneira que os modelos econômicos tradicionalmente previam. Os dois, então, desenvolveram um relato sobre como as pessoas tomam decisões, mais fiel à psicologia humana, que eles chamaram de “teoria das perspectivas” (prospect theory). Foi por essa conquista que Kahneman recebeu o Nobel. Na terceira fase de sua carreira, principalmente após a morte de Tversky, Kahneman mergulhou no estudo da felicidade, sua natureza e suas causas.
Seu best-seller Rápido e devagar: duas formas de pensar (Thinking fast and slow) abrange todas estas fases. É um livro imperdível. Denso, profundo, cheio de surpresas intelectuais, bem-humorado, como seu autor, e tocante, especialmente quando Kahneman fala de sua colaboração com seu amigo
Tversky. “O prazer que encontramos em trabalhar juntos nos tornou excepcionalmente pacientes. É muito mais fácil lutar pela perfeição quando você nunca está entediado.”
Nesta entrevista à Resenha, Kahneman passeia pelas suas principais ideias, de como elas podem afetar a nossa vida pessoal, a vida financeira, o mercado e a política. “A psicologia pode ser muito útil para ajudar a planejar a experiência social. Quando as reformas econômicas fracassam, a principal razão é que qualquer reforma gera vencedores e perdedores. Os perdedores lutam muito mais do que os potenciais vencedores. Em consequência disso, para obter qualquer resultado tem de se compensar os perdedores. Tipicamente o custo disso é alto, algo que os planejadores não anteviram.”
Kahneman é um dos principais convidados do Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais, que ocorre em agosto. Confira abaixo sua entrevista.
RESENHA – O que deveríamos saber a respeito de como a psicologia afeta a economia e, sobretudo, as decisões financeiras?
KAHNEMAN – É quase uma disciplina mista de psicologia social e economia comportamental. Todos são chamados de economistas comportamentais, mas na verdade aplicam a psicologia à tomada de decisões financeiras e outras atividades econômicas. O campo já existe e muitas contribuições advêm de algumas outras áreas. As mais importantes advêm da psicologia social e da psicologia do julgamento. Outra fonte de informações relevantes é a literatura sobre julgamento e o processo decisório. Essas são as duas principais fontes de influência sobre a economia comportamental e as aplicações da economia comportamental nas políticas públicas.
RESENHA – O que torna as questões psicológicas relevantes para as políticas públicas?
KAHNEMAN – Dizem que as políticas públicas interagem com os cidadãos e que a maneira pela qual os cidadãos se comportam e agem é relevante para o governo. É considerada relevante qualquer coisa que o governo possa fazer para que as pessoas ajam melhor em seu próprio interesse. Acontece que a psicologia é muito útil para criar as ferramentas para isso. Deixe-me dar um exemplo. Digamos que haja um benefício que esteja disponível para pessoas desempregadas. Muitos dos próprios beneficiários desconhecem esses benefícios. Há espaço para a psicologia em termos de como formular as mensagens, como conscientizar as pessoas a respeito das oportunidades disponíveis e como orientá-las a tomar as decisões que realmente sejam em seu melhor interesse. Esse é só um exemplo dentre muitos.
RESENHA – Por que temos de ir mais devagar ao tomar grandes decisões? Poderia explicar muito resumidamente a ideia do “sistema 1” e “sistema 2” em relação a decisões?
KAHNEMAN – Em meu livro Rápido e devagar: duas formas de pensar (Thinking fast and slow), fiz uma distinção entre duas maneiras de funcionamento da mente, na verdade. Uma maneira, que é chamada de sistema 1, é rápida, automática e mais emocional, fazendo muito uso da associação de ideais. O sistema 2 é mais lento e reflexivo, envolvendo mais esforço. Falo das interações entre esses dois sistemas. Nenhum deles é perfeito. Ambos são muito bons naquilo que fazem. Precisa ler o livro para saber como interagem e contribuem para a tomada de decisões. Não se pode resumi-lo em poucas frases.
RESENHA – Por que tomamos decisões ruins a respeito do dinheiro? O que pode ser feito para melhorá-las?
KAHNEMAN – [ri] Como tomar decisões boas a respeito do dinheiro é uma questão altamente especializada. Fala-se em “alfabetização financeira”. Em sua maioria, as pessoas são analfabetos financeiros. Se a pergunta se refere aos analfabetos financeiros e por que tomam decisões ruins, eu diria que é porque não têm conhecimento suficiente para tomar decisões melhores. Não é intuitivamente óbvio que fundos de índice possam ser um investimento melhor do que fundos de gestão ativa. É algo que as pessoas financeiramente alfabetizadas sabem – não todas, mas muitas – e que os analfabetos financeiros não sabem. Portanto, quando entregues a si próprias as pessoas tomam decisões ruins menos por causa de maus conselhos e mais por causa de sua ignorância. Esse é um problema pequeno, acho eu.
Parece que, quando as pessoas pensam a respeito do dinheiro, elas o colocam em varias categorias diferentes e tratam cada categoria de modo muito diferente. É isso que chamamos de contabilidade mental. Em termos mentais, ha um orçamento e a pessoa se preocupa com as alocações a partir do seu orçamento. Isso pode levar as vezes a consequências absurdas, mas em geral a contabilidade mental e um instrumento de autocontrole
RESENHA – Poderia explicar o que o senhor chama de “contabilidade mental” e seus efeitos nas decisões sobre o dinheiro?
KAHNEMAN – Parece que, quando as pessoas pensam a respeito do dinheiro, elas o colocam em várias categorias diferentes e tratam cada categoria de modo muito diferente. É isso que chamamos de contabilidade mental. Em termos mentais, há um orçamento, e a pessoa se preocupa com as alocações a partir do seu orçamento. Isso pode levar às vezes a consequências absurdas, mas em geral a contabilidade mental é um instrumento de autocontrole. Você tem um orçamento determinado e suas decisões respeitam esse orçamento. Pode dar certo. Não é de todo ruim, embora possa levar a decisões completamente ridículas às vezes. Muito se escreveu a respeito das decisões ridículas e menos a respeito das vantagens da contabilidade mental. Isso é muito abstrato e, portanto, eu deveria lhe oferecer outro exemplo.
Descobriu-se, por exemplo, que a probabilidade de que as pessoas sairão de casa para assistir a uma partida de beisebol em um dia de mau tempo ou muito trânsito é maior quando compraram os ingressos do que quando possuem os mesmos ingressos mas não tiveram de pagar. Esse é um exemplo de contabilidade mental. Você já pagou, mas quer receber algo em troca do dinheiro que desembolsou. Quando pensamos a respeito disso racionalmente, do ponto de vista da economia racional, não faz sentido. Você já gastou o dinheiro e já arcou com o custo, de modo que não deveria se importar. Na verdade, quando as pessoas gastaram com o intuito de receber algo, elas querem realmente recebê-lo. A contabilidade mental funciona assim.
RESENHA – O senhor acha que devemos confiar na intuição em geral?
KAHNEMAN – Essa pergunta é muito, mas muito geral. Podemos confiar na intuição em geral nas situações em que temos expertise. Não são poucas as situações em que temos expertise. De modo geral, é provável que dê para confiar na intuição quanto a quem não gosta da gente. É provável que a gente saiba bastante sobre isso, não com perfeição, mas temos intuições, e isso é porque temos expertise. Os xadrezistas podem confiar na intuição se jogaram milhares de partidas, mas os novatos não podem. Podemos confiar na intuição ao vivermos uma situação que conhecemos bem e que possui algumas regularidades que podemos aprender. Se aprendermos essas regularidades no ambiente, podemos confiar na intuição. É isso que acontece com os xadrezistas e com os motoristas. Dirigimos intuitivamente porque temos muita experiência, mas não é o caso na bolsa porque não há regularidade suficiente para que as pessoas tenham intuições válidas a respeito de quais ações vão subir e quais vão cair. As pessoas podem achar que tenham intuições, mas essas intuições não valem nada.
RESENHA – Há muitas evidências a respeito de decisões irracionais na economia. Por que as pessoas nem sempre tomam decisões boas?
KAHNEMAN – A primeira razão é que as pessoas operam num mundo sobre o qual sabem pouco. Por exemplo, no campo das decisões financeiras, a maioria das pessoas não sabe nada. Fala-se muito em psicologia e vieses cognitivos. Os vieses são a principal razão pela qual as pessoas erram, mas na verdade a ignorância e o desconhecimento são uma fonte muito importante de decisões ruins. Em outros campos, como entre empreendedores, seria pertinente perguntar se o otimismo excessivo é fonte de decisões ruins, porque excesso de otimismo ou deficiência de realismo leva muitos empreendedores e inventores a correr riscos que nem sabem que estão correndo. Não sabem que estão correndo esses riscos porque estão sendo otimistas. Não é fácil dizer se a decisão é ruim ou boa.
Claramente há muitas pessoas que correm riscos, e correm esses riscos porque não sabem o que estão fazendo. Se soubessem, não correriam esses riscos. Há muitas razões e muitos tipos de decisões ruins. Não há resposta simples a essa pergunta.
RESENHA – Poderia compartilhar sua opinião sobre experiência versus memória? Quando falamos de felicidade, como podemos maximizar nossa sensação de felicidade? Qual a relação entre metas e satisfação?
KAHNEMAN – Tenho de argumentar que há maneiras bem diferentes de se definir a felicidade. Talvez haja até três, mas as duas de que falo mais são, primeiro, que você pode estar feliz neste momento e, segundo, que você pode estar satisfeito quando pensa a respeito de sua vida. A satisfação com a vida é um tipo de felicidade e a experiência de vida em tempo real é outro tipo. Acontece que para ser feliz, de acordo com uma determinada definição, você não faz as mesmas coisas que faz quando quer ser feliz no momento e quando quer estar satisfeito com sua vida.
Para ser feliz no momento… a principal coisa que deixa as pessoas felizes no momento é social, é estar com pessoas que amam. É nesse momento que ficam muito felizes, sentem-se inteiramente felizes. Para estar satisfeitas com suas vidas, as pessoas querem realizar algo, querem ficar ricas, querem educar-se, querem ter êxito – trata-se de um conjunto muito diferente de critérios. Maximizam sua felicidade, a felicidade de sua experiência, e maximizam sua satisfação com você mesmo e com sua vida. Não é necessariamente a mesma coisa.
RESENHA – Como podem seus trabalhos acadêmicos impactar a vida das pessoas e o êxito das empresas?
KAHNEMAN – Estudo o julgamento e o processo decisório. Muita gente já estudou as mesmas coisas que eu. É disso que falávamos antes. Trata-se do efeito daquilo que agora se chama de economia comportamental e como arranjar as decisões que os indivíduos enfrentam de modo a maximizar a probabilidade de tomarem a decisão certa.
Acho que a psicologia pode ser muito útil para ajudar a planejar a experiência social. Darei um exemplo: quando as reformas econômicas fracassam, ou pelo menos têm menos êxito do que o esperado. A principal razão é que qualquer reforma gera vencedores e perdedores. Os perdedores lutam muito mais do que os potenciais vencedores. Os potenciais perdedores resistem mais às mudanças do que os potenciais vencedores. Em consequência disso, para obter qualquer resultado tem de se compensar os perdedores. Tipicamente o custo disso é alto, e tipicamente isso não é algo que os planejadores anteviram.
Esse é um exemplo da utilidade da consciência psicológica para ajudar os políticos e outros a pensar sobre as possíveis reações a suas medidas e as possíveis implicações de suas medidas quando interagem com os cidadãos.
RESENHA – Dado o funcionamento dos mercados financeiros e de capitais, quais as principais ideias produzidas pela teoria das perspectivas (prospect theory)?
KAHNEMAN – Temos algumas previsões sobre os mercados e, de modo geral, por exemplo, a prospect theory foi usada para explicar por que é mais arriscado investir na Bolsa e por que o retorno do investimento em ações é maior do que o retorno dos investimentos menos arriscados. Mesmo assim, pode ser pouco razoável se for levada em conta apenas a distribuição dos riscos. Há mais evolução do risco no mercado acionário quando o indicador é o prêmio de risco. Há mais risco, e isso pode ser explicado pelo que chamamos de redução do prejuízo. Reduzir prejuízos é muito importante nas decisões dos investidores pessoas físicas, sobretudo pessoas ricas. Na hora de decidir, tendem a se preocupar muito mais com perdas do que com ganhos. 
Temos algumas previsões sobre os mercados e de modo geral, por exemplo, a prospect  theory foi usada para explicar por que e mais arriscado investir na Bolsa e por que o retorno do investimento em ações é maior do que o retorno dos investimentos menos arriscados. Mesmo assim, pode ser pouco razoável se for levada em conta apenas a distribuição dos riscos.
Isso faz muito mais sentido se você não for rico, porque pode ser arruinado por prejuízos. Mesmo as pessoas muito ricas preocupam-se mais com perdas potenciais do que com bons ganhos potenciais, especialmente quando esses ganhos acabam não maximizando seus lucros. Alguém que vise à maximização da riqueza dará pesos mais ou menos iguais a ganhos e perdas. A maioria, porém, tende a dar muito mais peso, talvez duas vezes mais, a perdas do que a ganhos em suas decisões. Isso influencia tanto o mercado quanto as decisões individuais.
RESENHA – O que é “racionalidade limitada” exatamente? Como os limites da racionalidade afetam o funcionamento dos mercados financeiros e de capitais?
KAHNEMAN – Sabe, não sou especialista em assuntos financeiros. Não posso responder com exatidão. A pergunta vai além do meu conhecimento específico. Mas a racionalidade limitada significa simplesmente que as pessoas não necessariamente maximizam suas oportunidades. As pessoas não investem melhor porque custa caro identificar a melhor solução.
A tradição da racionalidade limitada difere bastante do tipo de trabalho com o qual estive envolvido. Leva a um rumo diferente. Os economistas que refletiram sobre a racionalidade limitada estavam enfocando as limitações da memória e da busca. Nós pensamos em termos de vieses.
RESENHA – Cada vez mais os mercados financeiros são movidos por algoritmos e coisas do gênero. O senhor acha que alguns dos erros que cometemos frequentemente ao tomar decisões financeiras por causa de nossos vieses ou de falhas psicológicas podem ser administradas ou mitigadas por essas máquinas? Ou acha que as máquinas simplesmente repetem os erros cometidos pelos seres humanos?
KAHNEMAN – Não, não estou convicto de que as máquinas repitam os erros humanos. As máquinas utilizam big data. O sistema financeiro gera uma quantidade enorme de dados. Alguns dados são de longo prazo, e alguns são de curto prazo – tão curto quanto um microssegundo, em muitos casos. Não há dúvida de que não estão meramente repetindo os erros humanos.

LEITURA DA ÉPOCA
COMPLEMENTE A LEITURA ANTERIOR COM ESTA



quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Proposta de redação ( treino): concurso para cargo de policial rodoviário federal

Escreva um texto argumentativo em que aborde as causas da corrupção da polícia brasileira - polícia em geral - e crie uma tese forte, evidenciando que é possível acabar com ela. 


* AULAS DE REDAÇÃO PARTICULAR, ON LINE OU PRESENCIAIS ( SP/AP). FALAR NO FIXO 11 32713311
OU AQUIhttps://www.facebook.com/pg/aula.de.redacao.online/reviews/?ref=page_internal
AULAS NAS FÉRIAS. 

TEXTO 1


De cada dez denunciados por crime organizado no Rio de Janeiro, dois são ou foram policiais militares ou civis. Os dados são de levantamento divulgado nesta segunda-feira (26) pelo jornal O Globo. Desde que foi criado em 2010, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público estadual, já denunciou 5.219 criminosos. Desses, 1.030 (20%) são ou eram servidores da área de segurança. Entre eles, 826 PMs e ex-PMS. Eles respondem por crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção, extorsão, homicídio, estelionato, entre outros.
Policiais civis responsáveis por investigações e até agentes penitenciários que deveriam, por regra, garantir que, uma vez preso, o criminoso perdesse o contato com seu bando e não oferecesse mais risco a quem quer fosse, também são investigados pelo Gaeco. Entre os investigados, estão 158 policiais civis, 38 bombeiros militares, 3 agentes penitenciários e 5 homens das Forças Armadas.
Segundo O Globo, além dos problemas de ordem material, que envolvem escassez de recursos, há ainda o corporativismo, que muitas vezes prejudica o andamento das denúncias, e uma legislação que beneficia denunciados em cargos de chefia ou de patentes mais altas, quando são militares. https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/policiais-sao-20-dos-acusados-de-corrupcao-no-rio-de-janeiro/

TEXTO 2
“Não podemos fazer intervenção só do lado de fora, nas ruas; precisamos intervir também dentro das polícias.”
Foi o que disse uma das autoridades federais em reunião na sede do governo do Rio sobre a missão das Forças Armadas no estado, segundo O Globo.
De acordo com a fonte do jornal, Michel Temer e o general interventor Walter Braga Netto deixaram claro que o combate à corrupção se tornou uma prioridade.
Agora é preciso aplicar um modelo de ação que permita a “limpeza” nas polícias Militar e Civil fluminenses.
“Existe a possibilidade de o presidente assinar um decreto suplementar nos próximos dias, detalhando o poder de atuação de Braga Netto. Isso é uma reivindicação de oficiais, que querem garantir carta branca para o general tomar todas as decisões que julgar necessárias.
Fontes do Planalto disseram que, para Temer, está claro que é preciso reestruturar as polícias do Rio. No entanto, o governo vem tendo muito cuidado ao tratar do tema, para não causar reações dentro das corporações.”https://www.oantagonista.com/brasil/prioridade-da-intervencao-combater-corrupcao-policial/
TEXTO 3
BBC Brasil - Qual é o pano de fundo da violência no Estado?
José Maria Panoeiro - Me parece ser (entre outras causas) um problema direto de corrupção policial. Sem querer generalizar, mas há uma série de atividades onde aparecem agentes do Estado dando cobertura a criminosos, recebendo remuneração de criminosos.
E isso fica patente em algumas operações que você tem, com as Forças Armadas cercando determinados territórios, com informes sobre a existência de fuzis, e no final das contas a apreensão (de armas) é ínfima, beira o ridículo, ou não há nenhuma apreensão. O que significa que houve vazamento de informação. E vazamento da parte de quem? Só pode ser da parte de agentes do Estado.
Então, esse é um aspecto que é fundamental. Não tem como acreditar que esta quantidade de armas chega ao Rio sem que haja um mínimo de conivência de agentes do Estado que trabalham na área de segurança.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) começou a fazer bloqueios nas rodovias e começou a apreender fuzis e munição em sequência. (...) Se a PRF começa a encontrar fuzil, por que não eram encontrados antes? Porque estava havendo algum tipo de acerto que nós não conseguimos ver, mas provavelmente havia algum tipo de acerto corrupto por trás disso
BBC Brasil - O que vocês investigam nesse Grupo Estratégico do Ministério Público Federal?
Panoeiro - O grupo foi criado (em outubro passado, pela procuradora-geral Raquel Dodge) para tentar fazer um diagnóstico de quais são os problemas, e (explicar) por que é que o quadro chegou neste ponto. Entender por que é que quase não há investigação de tráfico de armas, na Polícia Federal. Por que é que esses canais de investigação estão falhando.
Será que eles não estão produzindo um tipo de informação que é inútil?
Do tipo: eu prendo um sujeito com vários fuzis na (Via) Dutra e simplesmente comunico isso para a Justiça Estadual, e vendo isso como um porte de arma, como se fosse um cidadão qualquer que está circulando na rua com uma arma na cintura sem ter autorização para isso.
Quando na verdade a gente está diante de um transporte no contexto de uma importação (de armas), ou seja: aquilo ali é uma conduta de tráfico de armas, que mereceria ser investigada para saber quem é o comprador, para onde vai, de onde veio.
Mas faz-se um corte na informação e trata-se isso como o que não é: um porte de arma de fogo.
Então o foco do grupo é determinar onde estão os gargalos da investigação, que não se chega a bom termo e o crime vai, simplesmente, se expandindo.
BBC Brasil - Há tanta corrupção no aparato de segurança do Rio quanto se diz?
Panoeiro - É difícil quantificar corrupção, mas eu vou te dar um exemplo bem simples.
Se você tem um agente policial, um inspetor de polícia com um salário que gira em torno de R$ 4 mil, R$ 5 mil, R$ 6 mil, R$ 8 mil que seja, esse sujeito não tem condições de alugar um jatinho para ir passar um final de semana em uma cidade no interior de São Paulo.
BBC Brasil - Vocês já viram um caso desses?
Panoeiro - Já. A gente tem notícia (do acontecimento).

BBC Brasil - Qual é a dificuldade de investigar corrupção policial?
Panoeiro - Concretamente, qual é o nosso problema? Imagine que você traga para o Ministério Público Federal o seguinte: "olha, eu acho que o agente fulano de tal é corrupto, porque ele ganha tanto e ostenta um patrimônio que é absolutamente incompatível".
Ok. É óbvio que, se o patrimônio é incompatível, é bastante provável que ele esteja envolvido em algum tipo de prática criminosa (...). Mas (para denunciá-lo) por corrupção, eu teria que flagrar o sujeito no momento em que ele estivesse fazendo isso. E eu não vou ter essa prova.
Por isso, dentro daquelas Dez Medidas Contra a Corrupção, que a Câmara (dos Deputados) acabou enterrando (no fim de 2016), uma delas era contra o enriquecimento ilícito. (Seria possível denunciar) todas as vezes que você tivesse um funcionário público com patrimônio absolutamente incompatível, e alguma ligação com uma atividade ilícita. Não precisaria necessariamente comprovar (que o servidor) praticou a atividade ilícita.
Mas por exemplo: eu tenho prova de que o sujeito se relaciona com milicianos na Zona Oeste. E o sujeito está enriquecendo. Eu já poderia, a partir daí, se o patrimônio é incompatível, se não tem nenhuma razão para ele ter o patrimônio que tem, eu poderia sancioná-lo (punir) por enriquecimento ilícito (...). Agora, o Congresso não quis.
BBC Brasil - A intervenção federal na área de segurança fará bem ao Rio?
Panoeiro - A rigor, e pelo para mim, pessoalmente, é uma questão que é muito clara, a gente tem um problema no Rio de Janeiro de você ter diversos grupos criminosos que disputam um determinado espaço. E eles, ao longo dos últimos 20 anos, esses grupos vieram se armando cada vez mais para prosseguir nessa disputa por território (...).
O problema da violência do Rio, salvo melhor juízo, salvo se acontecer um milagre, a intervenção federal, em nove meses, não vai conseguir corrigir um problema que vem de pelo menos duas décadas, (que vem) se tornando mais agudo.
...............................

Combate à corrupção
Talvez o mais difícil problema a ser enfrentado, e o mais grave, é a corrupção em suas mais diferentes modalidades. O ouvidor da polícia no Estado de São Paulo, Fermino Fecchio, acha que o problema precisa ser enfrentado por meio do fortalecimento das corregedorias. “As corregedorias não têm autonomia necessária para conduzir suas investigações. E faltam recursos como carros e funcionários, enfim, estrutura para o trabalho dos corregedores”, afirma o ouvidor. Para o secretário adjunto da Segurança Pública de São Paulo, Marcelo Martins de Oliveira, a criação de corregedorias no interior do Estado até agosto próximo vai fortalecer sua atuação.
É necessário, ainda, que oficiais e delegados sejam tão punidos quanto seus subordinados quando cometem atos desabonadores às suas carreiras. Levantamento da Ouvidoria da Polícia, de São Paulo, mostra que 51 delegados denunciados na Ouvidoria foram punidos, ou 36% dos 140 que foram investigados entre 1998 e 2001. Já os investigadores são tratados com maior rigor. Foram punidos no mesmo tempo 187 investigadores, 54% dos 348 investigados a partir de denúncias encaminhadas à Ouvidoria.
Segurança privada
Ainda nesse mundo da ilegalidade, proliferaram os “bicos” de policiais para empresas de segurança, ironicamente acompanhando a tendência de aumento na criminalidade. Soldados e cabos fazem “bico” como vigilantes, enquanto policiais de patente mais elevada prestam consultoria ou mesmo são os donos das empresas de segurança. “Como isso é contra a lei, as empresas são registradas em nome de esposas ou filhos”, diz o sociólogo Túlio Kahn, do Ilanud (Instituto das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento de Delinqüentes).
O “bico” é uma atividade perigosa, estressante e promíscua. No ano passado, 75 PMs foram mortos na hora de folga, 65% do total de 115 policiais militares assassinados em território paulista, segundo a ouvidoria. Há policiais que deixam de atuar em determinadas áreas para gerar demanda por segurança e, depois, oferecer seus serviços privadamente, mas esses são casos raros. Além disso, o contato “comercial” com a população cria oportunidades criminosas, como venda de proteção, prestação de serviços a criminosos, uso de informação privilegiada e de armas e viaturas da polícia.
Para o sociólogo do Ilanud, a solução para a prática dos “bicos” é a regulamentação da atividade por uma fundação da polícia. Com isso, Kahn acredita que a regulamentação do “bico” reduziria mortes de civis e policiais, porque o policial poderia contar com apoio material ou logístico da corporação. Para ele, é inútil aplicar a lei e tentar proibir o bico. Seria uma forma também de a PM manter fiscalização sobre o trabalho paralelo de seus membros, como nos Estados Unidos, onde algumas unidades policiais criaram fundações que recebem pedidos de serviços particulares de segurança. Lá, o lucro é dividido entre a fundação e os policiais.
Um bom exemplo
Mas o Brasil também exporta experiências de sucesso na polícia. A idéia da Delegacia da Mulher foi escolhida como um dos 40 mais inspiradores exemplos de polícia no mundo pelo Centro Internacional para a Prevenção do Crime (ICPC, sigla em inglês), sediado em Montreal, no Canadá, em 1999.
A primeira Delegacia da Mulher foi implantada em 1985 em São Paulo, atendendo a uma reivindicação histórica do movimento feminista. Hoje, há 307 delas. Seu sucesso vem aumentando sua fama e a procura. Em 1999, foram registradas 411 213 notificações, mais que o triplo de 1993. Essas delegacias trouxeram à luz da lei muitos casos de agressão e estupro que restavam escondidos nos lares e que não recebiam tratamento adequado nas delegacias convencionais. Mas, embora vitoriosas, as Delegacias da Mulher andam carecendo de cuidados. Uma pesquisa do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher revelou que 74% das delegacias da mulher não possuem colete à prova de bala, 33% não dispõem de armas de fogo, 19% não têm viatura e, cúmulo dos cúmulos, 21% não contam sequer com linha telefônica. Inexiste psicólogo ou assistente social em 60% delas.
Medidas simples, como a integração dos serviços das delegacias com serviços jurídicos e de saúde, podem ajudar muito. É o que está havendo no Estado de Mato Grosso do Sul, onde está sendo criada uma rede de serviços de atendimento a mulheres vítimas de violência. Ali, a vítima será encaminhada pela delegacia a um centro multiprofissional com casa abrigo, psicólogas, assistentes sociais e advogadas. Na capital paulista, o simples deslocamento de médicos legistas do IML para o hospital Pérola Byington duplicou o atendimento de mulheres e crianças vítimas de violência sexual. Antes, a vítima tinha que ir à delegacia e ao IML antes de poder ser atendida no hospital. Para quem foi vítima de uma atrocidade, não é exigência cabível. É pedir para o crime ficar impune.
É simples assim. A cada vez que a polícia deixa de fazer uma tarefa mecanicamente para tratar do cidadão como seu cliente especial, sua razão de existir, ela dá um passo para reduzir a criminalidade e aumentar a sensação de segurança da sociedade. https://super.abril.com.br/tecnologia/policia/